3/09/2007

DESAFIOS PARA AS POLÍTICAS CULTURAIS LOCAIS - IMPRENSA

Aveiro: Paulo Ribeiro contra concessão do Teatro Aveirense

Rádio Terranova, 08/03/2007


“Aveiro merece mais que um La Féria ou uma delegação manhosa do INATEL”. O ex-director do Teatro Aveirense comentou assim, esta noite, a eventual concessão da sala de espectáculos da cidade de Aveiro. Paulo Ribeiro foi um dos oradores num debate sobre política cultural promovido pelo Gabinete de Estudos do PS local. Directo na resposta a uma pergunta feita pelo público, Paulo Ribeiro foi, no entanto, mais comedido em declarações aos jornalistas.
“Acho que a privatização de um espaço como este é reduzir a sua capacidade de ser interventora em relação à sociedade. É trazer um pouco de lixo cénico para o palco”, afirmou, sugerindo, com ironia, a entrega do Teatro Aveirense a uma religião como “os manás ou a IURD”.
Paulo Ribeiro foi director do Teatro Aveirense durante pouquíssimos meses, convidado pelo antigo presidente socialista Alberto Souto nas vésperas das eleições autárquicas. Esta noite, comentou a sua rápida passagem por Aveiro. Durante o debate afirmou que foi “corrido” pelo actual executivo. No final da sessão, mais uma vez aos jornalistas, disse apenas que “não havia condições para continuar”.
“Eu tinha sido convidado e esse convite pressupõe uma relação de confiança e com a nova equipa essa relação não havia”, acrescentou.
No debate desta noite, também Paulo Trincão, director da Fábrica Ciência Viva, mostrou a sua preocupação com a política cultural do executivo de Élio Maia. “Preocupa-me é a qualidade do que é feito”, afirmou, acrescentando não concordar com a concessão a privados do Teatro Aveirense.
“Eu nem sou contra a privatização de algumas actividades culturais, apesar de neste caso a resposta ser óbvia, basta conhecer a legislação. Não se pode privatizar uma instituição que foi financiada pelos Instituto das Artes e pelo Estado”.
Trincão acrescentou sentir falta de “um certo vanguardismo”. “Havia uma política cultural inovadora e um enorme empenhamento nos serviços educativos do teatro. Neste momento ou não existem ou nem são visíveis, ou estão em reformulação. Por outro lado, Aveiro era um ponto inovador em termos de passagens de espectáculos interessantes. Isso fazia com que as pessoas viessem a Aveiro e hoje virão menos”, considerou.



Paulo Ribeiro, ex-director do Teatro Aveirense: «Aveiro merece mais do que o La Féria»

Diário de Aveiro
, 9/03/2006, Rui Cunha

«Aveiro merece mais que um La Féria ou uma delegação manhosa do INATEL», disse Paulo Ribeiro, antigo director geral e artístico do Teatro Aveirense, sobre a eventual concessão a privados da sala de espectáculos

O anterior director geral e artístico do Teatro Aveirense (TA), Paulo Ribeiro, não concorda com a eventual concessão da principal sala de espectáculos do concelho. «Aveiro merece mais que um La Féria ou uma delegação manhosa do INATEL», disse o coreógrafo durante um debate sobre políticas culturais promovido quarta-feira à noite pelo PS.
A concessão do TA a entidades privadas tem estado no centro da agenda política em Aveiro, depois de o vereador das Finanças da autarquia, Pedro Ferreira, não ter fechado a porta a esta hipótese.
Chamado a pronunciar-se sobre o tema, Paulo Ribeiro advertiu que a entrega da exploração de casas de espectáculo a privados tem como efeito «reduzir a sua capacidade de intervenção na sociedade e de abrangência programática». «É trazer um pouco de lixo cénico para os palcos», resumiu.
Equipamentos como o TA «têm de fazer serviço público», o que não se compadece com «políticas de curto prazo», preveniu o actual director geral e de programação do Teatro Viriato, de Viseu.
Paulo Ribeiro dirigiu a instituição aveirense apenas entre Setembro e Novembro de 2005 – depois de ter sido convidado pelo Executivo socialista liderado por Alberto Souto, a sua saída foi precipitada pela vitória nas eleições autárquicas desse ano da coligação PSD/CDS-PP, que alegou dificuldades financeiras para a dispensa do coreógrafo.
«Correram comigo», declarou Paulo Ribeiro à plateia que assistia ao debate na Biblioteca Municipal, acrescentando não ter «nada a ver com as pessoas que foram para a Câmara» e que não existia uma «relação de confiança» entre as partes envolvidas.
O ex-director do TA historiou resumidamente a sua vinda para Aveiro. «Fui convidado por Alberto Souto, pessoa que muito me impressionou. Não estava habituado a ver câmaras com pessoas tão interessadas e dinâmicas», disse, destacando que foi chamado a empenhar-se num «desafio interessante» já que o TA tinha «possibilidades muito atraentes».

Culpas aos «políticos pouco visionários»

Durante a sua intervenção ficou claro o seu desgosto com a situação cultural em Portugal. «O país está cheio de teatros, mas o atraso continua», avalia. «Na Alemanha, por exemplo, qualquer cidade com a dimensão de Aveiro tem um teatro de ópera a funcionar com uma companhia residente e uma série de outros equipamentos alternativos», afirmou, lamentando que em Portugal falte «dinâmica cultural». «O lixo televisivo enche teatros e peças soberbas não, o que é muito ingrato», queixou-se.
Alguns dos responsáveis são os «políticos pouco visionários» para quem «a cultura é um fenómeno de moda». Também as empresas deveriam ter uma intervenção maior no apoio às artes, reclamou, lançando ainda algumas críticas aos órgãos de informação. «Continuamos reféns da opinião da comunicação social, que continua centralizada em Lisboa», declarou, deixando uma reflexão: «As cidades só se podem emancipar e ter uma actividade cultural consequente quando aí houver pessoas que saibam escrever e reflectir o que se passa».
Segundo Paulo Ribeiro, os «grandes desafios da cultura» passam pelo investimento na educação, o que poderá ter reflexos na formação de públicos. O antigo director do TA frisou ainda que «o dinheiro que vai para os teatros não se perde», lembrando que «o que conta não é ter público ou não mas o que fica com o público».
Presente na sessão, Paulo Trincão, director da Fábrica de Ciência de Aveiro, revelou alguma apreensão com a actual política cultural seguida pelo executivo camarário chefiado por Élio Maia. O responsável disse notar uma «mudança estrutural da política cultural da cidade». «Preocupa-me a qualidade do que é feito», comentou, lamentando a ausência de «um certo vanguardismo». «Havia uma política cultural inovadora e um grande empenho nos serviços educativos do Teatro Aveirense, que eram altamente modernizados e dinâmicos. Agora, ou não existem, ou não são visíveis, ou estão em reformulação», ajuizou. Trincão notou ainda que localmente não vislumbra «planos a médio e longo prazo» e lastimou que não seja dada «continuidade ao que estava a ser feito anteriormente». Disse ainda que Aveiro recebe actualmente menos «espectáculos interessantes», o que tem afastado público da cidade.
Sobre a venda do TA a particulares, lembrou que não pode ser consumada devido a impedimentos legais. «Não se pode privatizar uma instituição que foi financiada pelo Instituto das Artes», explicou, esclarecendo não ser contra a privatização de «algumas actividades culturais».



Ex-director do teatro contra a privatização
JN, 09/03/2007, Paula Rocha

O antigo director do Teatro Aveirense, Paulo Ribeiro, mostrou-se, anteontem à noite, contra a possível privatização deste espaço cultural da cidade, tendo chegado a dizer que "Aveiro merece bem mais do que um La Feria".

"Privatização de um espaço como o Aveirense é reduzir a sua capacidade de abrangência programática, reduzir a sua capacidade de ser interventivo em relação à sociedade. É trazer um pouco de lixo cénico para o palco porque as coisas quando se privatizam têm de levar as massas", acrescentou o agora director do Teatro Viriato, em Viseu, num debate organizado pelo PS de Aveiro sobre políticas culturais locais.

Paulo Ribeiro considera que um teatro privatizado "terá forçosamente de ter uma postura que não é de prestar à cidade e às pessoas um serviço público. E estes equipamentos têm de passar por isso". O sucesso da cultura passa "pela educação dos públicos e das gerações mais novas", bem como "pelas empresas que têm de dar mais apoio".

A sua passagem pelo Teatro Aveirense não durou mais do que um mês. Paulo Ribeiro foi convidado por Alberto Souto, na altura presidente da autarquia. Quando o novo executivo tomou posse, o director foi substituído. Quando questionado sobre a sua saída, Paulo Ribeiro disse que "se tratava de uma questão de confiança". O director da Fábrica de Ciência Viva de Aveiro, Paulo Trincão, mostrou-se preocupado com o rumo da cultura em Aveiro. Chegou mesmo a questionar o modelo de gestão do teatro, bem como as políticas culturais

"O que me preocupa é a qualidade do que é feito. Até nem sou contra alguns modelos de privatização. Preocupa-me é não vislumbrar quais são as linhas de actuação cultural, quais são os planos a médio e longo prazo e como é que eles se interligam com a própria cidade. Não vejo uma linha de continuidade cultural do trabalho que vinha a ser desenvolvido. Pode dizer-se que é um modelo diferente, mais ligado à cultura popular. Mas eu não consigo vislumbrar essa coerência", sublinhou Paulo Trincão.

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